Um amigo comentou hoje sobre o sujeito que atirou contra um agente de segurança no aeroporto de Los Angeles.
Comentário dele: ainda é pouco!
Realmente, do modo que como somos mal tratados o tempo todo, e como tratamos mal os outros na maioria das vezes, de fato ainda é pouco o número de pessoas que extravasam o ódio e a raiva reprimidos com esses acessos de fúria.
Nesta semana, ouvi vários relatos de amigos ou parentes, de que estavam se sentindo esgotados por conta de serem mal atendidos.
É funcionária de hospital que não avisa dos cuidados prévios necessários a um exame; é funcionário de aeroporto que destrata passageiro com 90 anos; é funcionário de seguradora que “esquece” de renovar a apólice; é gente dos insuportáveis tele-marketings que liga nos horários mais inconvenientes para oferecer coisas que você nunca pediu; é um motorista imbecil que bloqueia teu carro no estacionamento, porque ele foi “só ver uma coisinha rápida”; é bar que não respeita lei do silêncio; é a máquina de “auto-atendimento” que não funciona e não lhe dá opção para um serviço “humanizado”; é a pessoa que espera por uma condução que vem sempre lotada; é o descerebrado que passa com o volume do som do rádio do carro ao máximo; é o prestador de serviço que ri na sua cara se você reclama do atraso; é é é.
Pensem bem: somos agredidos o tempo todo por coisas que não ocorreriam se:
a funcionária se preocupasse com o trabalho e não com a televisão ligada na sala de espera; se a seguradora soubesse usar de planejamento; se não existissem essas infernais coisas de querer vender porcarias por telefone; se as pessoas soubessem que andar 50 metros é melhor do que pagar mensalidade em academia de ginástica; se falar baixo fosse regra e não exceção; se olhassem menos para a tela do celular durante uma conversa; se as pessoas soubessem a utilidade do relógio.
No fundo, somos expostos à violência dos outros o tempo todo. Você pede uma informação e já fica com 4 pedras escondidas na mão, porque está condicionado a ser mal atendido. Não é violência gratuita, não é loucura, é simplesmente um estado de ansiedade permanente, de pessoas com horas de sono interrompidas por barulhos anormais, de pessoas que “falam muito dos direitos mas esquecem dos deveres”.
Sinceramente sou pessimista.
Não vejo como frases de “gentileza gera gentileza” coladas em latarias de automóveis possam influenciar de forma positiva as pessoas. Sempre nos pedem que façamos concessões, mas raramente as recebemos.
A violência reprimida está em todos os lugares, em todas as situações, em todos os países, em todas as classes sociais. Só podemos esperar por uma explosão pior do que os eventos isolados que percebemos, dos quais apenas uma minoria insignificante são noticiados. Quem vai se preocupar com um ataque a facadas que ocorrem num lugarejo do interior da Guatemala? Quem ouve falar de uma pessoa que tenta estrangular outra em uma rua no Iraque? Para nós isso parece ficção, e no entanto ocorre aqui mesmo ao nosso lado.
Debaixo desse lençol há uma situação de violência reprimida muito pior, que tendemos a desconsiderar, como se não fôssemos parte da máquina de triturar gente.
Não sei se fazemos isso para o nosso bem, ou para ignorar que um mal pior está por vir.
Compartilho o mesmo sentimento de uma prima: que vontade de ir embora deste planeta.
P.S.:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,pais-teve-50-mil-mortes-em-2012-maior-n-em-5-anos-,1092590,0.htm