Um blogue mal humorado, com aversão ao abominável modismo do "polìticamente correto" (hipòcritamente mal-resolvido). Blogue de um cético convicto, com a própria ortografia.

Posts marcados ‘deveres’

Velharada asquerosa

Fu​i ontem a uma agência bancária, para fazer a comprovação de que continuo vivo e mereço receber os proventos de aposentadoria.
Estava sendo atendido, quando uma bicha velha chegou esbravejando, na mesa onde eu estava sendo atendido, para dizer que “tinha atendimento prioritário” e o fulano da mesa ao lado não o tinha chamado.

A funcionária disse que já o chamaria.
Ele voltou e reclamou de novo.

Eu, discretamente, com tom de cantor de ópera, disse:

EU TAMBÉM TENHO ATENDIMENTO PREFERENCIAL, E O SENHOR ESTÁ ATRAPALHANDO MEU ATENDIMENTO.
SENTE-SE E AGUARDE.
CUMPRA SEUS DEVERES ANTES DE RECLAMAR SEUS DIREITOS.

A tiazona sentou, acanhada, e a moçoila continuou a fazer meu recadastramento.
Ela disse:
Suas palavras foram exatamente as que eu queria ter dito.
O problema cultural do Brasil só será resolvido quando houver outro povo.

Quando saí, o segurança da agência me cumprimentou.

Brasil não pode se equiparar à sola do pé do Japão

Escrevi há alguns dias sobre “os atrasadinhos do nEném“, quando reiterei o post mais velho sobre “força de alguns países“.

Hoje encontrei uma matéria em O Globo (que já havia sido publicada há meses no UOL), sobre crianças cuidando da limpeza das escolas no Japão.

Como no país do coitadismo isso não é admissível, sabemos que seremos sempre um país grande (no mapa) e nunca um grande país (na cidadania).

Aproveitem e leiam o post sobre o mangá Na Prisão, para comparar o coitadista sistema penitenciário brasileiro com o japonês.

Você acha que “direitos” são sempre “bons”?  Deveres foram simplesmente esquecidos pelos revanchistas de 1987/1988.

 

Violência reprimida

Um amigo comentou hoje sobre o sujeito que atirou contra um agente de segurança no aeroporto de Los Angeles.

Comentário dele: ainda é pouco!

Realmente, do modo que como somos mal tratados o tempo todo, e como tratamos mal os outros na maioria das vezes, de fato ainda é pouco o número de pessoas que extravasam o ódio e a raiva reprimidos com esses acessos de fúria.

Nesta semana, ouvi vários relatos de amigos ou parentes, de que estavam se sentindo esgotados por conta de serem mal atendidos.

É funcionária de hospital que não avisa dos cuidados prévios necessários a um exame; é funcionário de aeroporto que destrata passageiro com 90 anos; é funcionário de seguradora que “esquece” de renovar a apólice; é gente dos insuportáveis tele-marketings que liga nos horários mais inconvenientes para oferecer coisas que você nunca pediu; é um motorista imbecil que bloqueia teu carro no estacionamento, porque ele foi “só ver uma coisinha rápida”; é bar que não respeita lei do silêncio; é a máquina de “auto-atendimento” que não funciona e não lhe dá opção para um serviço “humanizado”; é a pessoa que espera por uma condução que vem sempre lotada; é o descerebrado que passa com o volume do som do rádio do carro ao máximo; é o prestador de serviço que ri na sua cara se você reclama do atraso; é é é.

Pensem bem: somos agredidos o tempo todo por coisas que não ocorreriam se:

a funcionária se preocupasse com o trabalho e não com a televisão ligada na sala de espera; se a seguradora soubesse usar de planejamento; se não existissem essas infernais coisas de querer vender porcarias por telefone; se as pessoas soubessem que andar 50 metros é melhor do que pagar mensalidade em academia de ginástica; se falar baixo fosse regra e não exceção; se olhassem menos para a tela do celular durante uma conversa; se as pessoas soubessem a utilidade do relógio.

No fundo, somos expostos à violência dos outros o tempo todo. Você pede uma informação e já fica com 4 pedras escondidas na mão, porque está condicionado a ser mal atendido. Não é violência gratuita, não é loucura, é simplesmente um estado de ansiedade permanente, de pessoas com horas de sono interrompidas por barulhos anormais, de pessoas que “falam muito dos direitos mas esquecem dos deveres”.

Sinceramente sou pessimista.

Não vejo como frases de “gentileza gera gentileza” coladas em latarias de automóveis possam influenciar de forma positiva as pessoas. Sempre nos pedem que façamos concessões, mas raramente as recebemos.

A violência reprimida está em todos os lugares, em todas as situações, em todos os países, em todas as classes sociais. Só podemos esperar por uma explosão pior do que os eventos isolados que percebemos, dos quais apenas uma minoria insignificante são noticiados. Quem vai se preocupar com um ataque a facadas que ocorrem num lugarejo do interior da Guatemala? Quem ouve falar de uma pessoa que tenta estrangular outra em uma rua no Iraque? Para nós isso parece ficção, e no entanto ocorre aqui mesmo ao nosso lado.

Debaixo desse lençol há uma situação de violência reprimida muito pior, que tendemos a desconsiderar, como se não fôssemos parte da máquina de triturar gente.
Não sei se fazemos isso para o nosso bem, ou para ignorar que um mal pior está por vir.

Compartilho o mesmo sentimento de uma prima: que vontade de ir embora deste planeta.

P.S.:

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,pais-teve-50-mil-mortes-em-2012-maior-n-em-5-anos-,1092590,0.htm