Um blogue mal humorado, com aversão ao abominável modismo do "polìticamente correto" (hipòcritamente mal-resolvido). Blogue de um cético convicto, com a própria ortografia.

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Genealogia

Há alguns anos, várias pessoas começaram a fazer árvores genealógicas, na expectativa de que encontrar aquele parente “chave” que lhes dariam a oportunidade de receber outra nacionalidade.
Houve até um caso conhecido da mulher de um político, que disse que ia reivindicar a nacionalidade italiana, pois “queria dar melhor oportunidades aos filhos”.

Não foi meu caso.
Todos meus antepassados que vieram morar no Brasil o fizeram no período entre 1880 e 1910, e certamente não me sinto responsável por qualquer tipo de “dívida histórica” a ser paga a quaisquer outros grupos. Sou apenas mais um mestiço étnico dentre tantas pessoas de “raça pura” que desfilam por aí.

Muita gente cultiva “brasões” e “títulos de nobreza”, forjados e montados por “especialistas”. Falsos como cédulas de US$ 4,00 emitidas pelo Federal Bank of Nigeria.

Por pior que seja o Brasil, não me interesso mìnimamente em ir morar nos países de onde esses antepassados emigraram.
Certa vez, ainda no século XX, comentei com meu pai que tinha vontade de visitar o país de onde tinha vindo a família (dele). Resposta curta e direta:
– Para que? Eles vieram de lá porque era muito pior do que aqui.

E realmente só tem piorado… Lá ainda mais do que aqui.

Com difusão da infernet e seus penduricalhos, montei uma vez uma árvore genealógica, com poucas observações de que dispunha, relatadas bàsicamente por minha avó materna.
Compartilhei com parentes, e eles fizeram acréscimos. Muitos. Até demais. Quando chegaram a mais de 600 nomes, o site que hospedava a árvore disse que passaria a cobrar. Simplesmente salvei o que estava feito e apaguei da infernet.
Por que não cobraram desde o início? Vigaristas!

Contudo isso havia sido tempo suficiente para que fossem encontrados vestígios de outros ramos das famílias, em Berlim, Santiago do Chile, Toronto, na Cidade do Cabo, e – pasmem – até no interior de São Paulo! Para mim isso comprovou que havia muito mais do que “parentesco”, como pretendiam alguns “orgulhosos”, mas apenas coincidência de sobrenomes – mesmo que raros – e não raras vezes indesejável.

Havia dado tempo suficiente, porém, para que algumas relações fossem estabelecidas. Relações de nomes e relações entre os “chegados”.
Tive inclusive a oportunidade de conhecer um desses parentes afastadíssimo do interior de São Paulo (o bisavô dele era primo em segundo grau de meu bisavô), e com seu auxílio consegui obter a certidão de óbito de meu bisavô e da mãe dele.
Destruí a lenda de que o bisa tinha morrido enquanto inspecionava uma obra. Era apenas mais um caso de tuberculose, omitido dos mais novos.

Durante esses dias de carnaval, uma prima encontrou “aquela” velha caixa de fotografias, que ninguém consegue identificar quem sejam os retratados.

Foi então um festival de zapzapices, de e-mailagens, de telefonemas, entre várias pessoas, em diferentes cidades. Conseguimos identificar muitas daquelas pessoas. Outras continuaram a ser borrões na memória do micro-coletivo familiar.

O que achei interessante, porém, é que sem qualquer expectativa de encontrar a chave para um passaporte europeu, conseguimos re-montar muitas histórias, que tinham sido ouvidas por nós, na sala ou na cozinha.

Hoje em dia, em que estamos quase todos nós estamos mais perto do túmulo do que do berço, foi muito gratificante reunir essas memórias, lembranças, recordações.
Deu mais valor a nossas insignes ficantes vidas.

Enquanto isso, não são poucos os brasileiros que sequer sabem os nomes de seus avós e tios. O convívio social se dá apenas com “amizades virtuais”.

 

A Arte de ser Avó

Recebi por whatsapp esta mensagem, que veio identificada como sendo de autoria de Rachel de Queiroz.

Não chequei a veracidade da autoria.

 

*A Arte de Ser Avó*

“Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu… É como dizem os ingleses, um ato de Deus”. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto. O neto é, realmente, o sangue do seu sangue, o filho do filho, mais que filho mesmo…
Cinquenta anos, cinquenta e cinco… Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que você esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações, todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto, mas acredita. Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores com paixões: a doçura da meia idade não lhe exige essa efervescência.  A saudade é de alguma coisa que você tinha e que lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade.
Bracinhos de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as crianças?
Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum suas crianças perdidas. São homens e mulheres- não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê.  Completamente grátis – nisso é que está a maravilha.
Sem dores, sem choro, aquela criancinha da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade, longe de ser um estranho, é um filho seu que é  devolvido.
E o espanto é que todos lhe reconhecem o direito de o amar com extravagância. Ao contrário, causaria espanto, decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá netos para compensar de todas as perdas trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vem ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.
E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono abre o olho e diz: “Vo!”, seu coração estala de felicidade, como pão no forno!

Rachel de Queiroz

Para os avós do grupo ❤❤💖💖💓💓

Resposta que recebi de uma autêntica avó, com três netos adolescentes.

O chato de ser avó é quando aqueles bebês rosados que adoram tudo que você faz crescem , entram no colegial , aprendem as lições dos formadores de opinião, e começam a contestar tudo o que você fala, até receita de arroz c feijão
As avós babonas só são avós de bichinhos com menos de cinco anos.

Natal de um velho esquecido

 

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2015/12/01/interna_mundo,508797/comercial-de-um-mercado-alemao-emociona-internautas-e-viraliza-na-web.shtml

Preconceito existe sim

Li há alguns dias, nem me lembro onde, uma matéria escrita por essas peçykólogoas, pedagojkas, ou sei lá que outro tipo de “analistas”, que afirmava que o preconceito se adquire na sociedade, que criança [aquele ser puro e angelical que rousseau (ruçô) e alguns católicos inventaram para maldição da humanidade]  não tem preconceitos.

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Falando bom e claro português:

QUE PUTA MENTIRA!

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Fui criança – há muito tempo, bem antes dessa raça de “analistas” começar a pulular em revistas, jornais e programas de rádio.

Lembro de que tinha uns 5 ou 6 anos (na flor da inocência, como diriam essas toupeiras que querem cegar a humanidade), posso afirmar porque aconteceu na casa em que morava naquela época.
Um menino mongolóide (com Síndrome de Down, como se exige dizer hoje em dia) foi passar o dia na casa de algum parente que morava no quarteirão.
Eu me zanguei com ele, na rua, e disse a meu pai, que estava por perto, que o menino era “muito bobo”.

Meu pai foi procurar a mãe do menino, para se desculpar, e na frente dela me deu uma lição de moral (nossa, que horror! assédio contra um dimenó!)  para ensinar que o menino não podia ser chamado de bobo, nem nada daquilo que eu tinha dito. Continuou, depois, para explicar que ele tinha nascido com aquela característica e eu tinha de saber que havia diferenças físicas e mentais entre ele e as outras crianças da rua.

Mais tarde, na escola, uns 8 anos, fiz uma piada de mau gosto a respeito de uma colega da classe, que hoje em dia teria de ser chamada de “afrodescendente”.
Meu pai e minha mãe vieram com toneladas de conversas contra aquela minha piada.
Lembro que minha mãe disse: – você pensa que mora nos Estados Unidos?  (estava em evidência, na época, a luta contra a política de segregação nos Estados do Sul dos Estados Unidos; isso era mostrado nos noticiários do Repórter Esso).

Pois é, minha mãe era “dona de casa”. Não era “analista” formada nas “melhores” universidades brasileiras de siençazumana.
Ela e meu pai souberam que é de menino que se torce o pepino, para crescer corretamente, e tirar os preconceitos que eu, criança, expunha com naturalidade.

Crianças têm preconceito nato. Cabe à sociedade ensinar que eles não se justificam.
Exatamente o oposto do que dizem os “intelijumentos” da intelligentzia.
O polìticamente correto, ou melhor, a hipocrisia, é a pior forma de lidar com esses temas.

 

Os mortos e os vivos

Só nestas cinco semanas do ano, o Brasil viu morrerem três grandes artistas do palco e do cinema: Maria Della Costa, Vanja Orico e Odete Lara.

Normal, todas elas tinham mais de 80 anos, e não existe isso de que a vida das pessoas se prolonga, como insistem alguns escrevinhadores de textos pseudo-científicos em jornais ditos “inteligentes”. A vida não é inesgotável. Todos a deixam uma hora ou outra. Isso é a regra absoluta da qual não há escapatória – apesar de hoje em dia uma porção de oportunistas quererem processar médicos e hospitais pela morte de bebês que nasceram com defeitos congênitos.
Se há uma redução de mortes por conta de enfermidades contraídas por problemas da falta de saneamento básico, por outro lado há um aumento de mortes violentas – tráfico de drogas, terrorismo, balas perdidas, acidentes de carros.

O que me chamou a atenção, porém, foi o fato de que essas atrizes eram pessoas de quem eu lembrava rosto, voz, e, sobretudo, atuação, bem diferente do que ocorre com essa geração de atores e atrizes que saltam à fama com um único papel interpretado, por conta de todo o marketing que envolve a apresentação.

No ano passado, quando morreu um amigo de meu irmão, comentamos que já estamos na fase da vida em que é mais importante contabilizar os amigos mortos do que os conhecidos vivos.
No início deste ano, comunicaram-me o fim do sofrimento de uma antiga amiga, desde os tempos de cursinho (há mais de 40 anos) até a vida adulta. Minha reação foi simples: que bom para ela, que deixou de ter de ser atendida em emergências, que tinha de se submeter a dolorosas e incômodas terapias, que no final não resultaram em nada, exceto, talvez, deixar mais experimentadas psicològicamente as pessoas mais próximas.

Frio? Indiferente? Acho que não. Apenas não vejo a morte como algo amedrontador. É o único ponto ao que todos os seres chegam, independentemente de espécie, gênero, cor, idade, peso. O que vem dali em diante não sabemos e talvez não nos caiba descobrir.

Apenas tenho a certeza de que em minhas memórias vejo os mortos todos que conheci – parentes, antigos vizinhos, professores, colegas de escola ou trabalho – com mais detalhes e mais “brilho” do que as inúmeras pessoas “vivas” que cruzam as ruas com seus iPhones e outros objetos que delas retiram a interação. Esses seres “vivos” não fazem parte de minha vida, não entram em minhas memórias.

Dona Benta e Dona Olga

Depois de ler o artigo escrito pela mãe-coisa,

http://itmae.uol.com.br/atitude/ideias-de-uma-itmae/as-novas-avos-nao-se-parecem-nada-com-dona-benta

(itmãe = mãe-coisa)

vieram-me à mente algumas dúvidas.

Os mocosos da geração com avós nascidas entre 1945 e 1964 que lembrança terão delas?
Aquela desengonçada que se lambuzou com ketchup no hambúrguer, na vigésima-terceira visita a Orlando?
Ou aquela era uma das centenas de “tias” da escola, onde centenas de crianças tinham o mesmo nome da moda, e que também organizavam uns cruzeiros marítimos?
Será que a avó não era a veterinária do Rex IV?
Foi aquela mulher que, em um carrinho de cachorro quente, numa praia qualquer, apartou a briga com o menino vietnamita que usava uma faquinha?

Bem, por ordem de defuntamento, vou me referir a mulheres de minha infância/adolescência:
minha mãe (a primeira a morrer, com 57 anos) – sopa de mandioquinha com creme de leite; peixe assado; gelatina colorida coberta de manjar;
tia Laura (78 anos) – capelettis e rondellis;
minha avó (dona Olga) (83 anos)  – caldo verde; bife à milanesa; pastéis (carne, queijo e palmito);
tia Fé (93 anos) – charutinho de folha de uva; bolo-rosca;
tia Rosa (87 anos) – esfiha e homus;
tia Inês (80 anos) – feijoada e omelete;
tia Pascoalina – figazza baresa (de Bári) (não é a mesma coisa que fogazza) recheada com queijo provolone e salame; doce de semolina.
Tia Pascoalina viveu 93 anos, e se manteve lúcida. Teve uma vida mais saudável do que muita mulher que malha cinco vezes por semana na academia, e precisa tomar seis remédios diferentes, fora os florais de Bach e a cromoterapia, para lembrar onde estacionou o carro.
Todas elas eram sedentárias, exceto minha mãe, que gostava de praticar natação. Tia Rosa era fumante. Todas viveram lúcidas até o final.

Bem, minhas recordações de avó e tias são mais bem delineadas, mais exclusivas, e compartilhadas apenas por algumas pessoas privilegiadas que se sentaram à mesa com elas.
Lembranças de convívio dentro das casas.
Os netos das “modernas” avós nascidas entre 1945 e 1964 difìcilmente terão muito o que contar, a não ser histórias parecidas com as de outros milhões de pessoas sem identidade.

Viva Dona Benta!
Abaixo a avó de fast-food!